Máscara, óculos, roupa impermeável e atenção à velocidade e direção do vento fazem parte da rotina de Adrien Michelmann, piloto agrícola de 26 anos, que atua em uma usina de cana-de-açúcar em Novo Horizonte (SP). Ele é responsável pela aplicação de agrotóxicos nas plantações utilizando um drone.
“Todo esse preparo é essencial para garantir a proteção contra os agrotóxicos e é uma exigência da empresa”, explica.
Embora seja uma profissão relativamente nova no Brasil, o cargo de piloto de drone já foi incluído em duas listas de carreiras em alta este ano. Uma delas, divulgada pelo LinkedIn, e a outra pela recrutadora Robert Half, que avaliou as expectativas de contratação de seus clientes.
Por ser uma profissão relativamente nova, a faixa salarial dos pilotos de drone varia bastante, podendo ir de R$ 2 mil a R$ 10 mil, dependendo do nível de qualificação do profissional e das comissões. Além de um salário fixo, algumas empresas oferecem uma remuneração extra por hectare pulverizado.
O piloto de drone pode atuar em diferentes funções:
- Na operação e configuração de drones pulverizadores, responsáveis pela aplicação de agrotóxicos, defensivos biológicos, sementes e fertilizantes nas plantações;
- No mapeamento das lavouras, auxiliando no planejamento da colheita, previsão de rendimentos e perdas, além da identificação de pragas e doenças.
Depoimentos de pilotos de drones
“Eu sempre fui apaixonado por tecnologia, e ao assistir vídeos no YouTube, percebi o crescimento do mercado de drones agrícolas, o que me levou a pesquisar como poderia entrar nessa área”, conta Adrien Michelmann, piloto de Novo Horizonte (SP).
Decidido, ele ingressou em um curso técnico de Agricultura de Precisão, pelo qual já é formado, e realizou o CAAR, certificado exigido pelo Ministério da Agricultura.
Curiosamente, o CAAR, embora obrigatório, não ensina a pilotar drones. O curso inclui aulas sobre o funcionamento do equipamento, mas seu foco principal é capacitar os profissionais a parametrizar, ou seja, configurar o drone para garantir a aplicação segura de agrotóxicos.
Logo após concluir o CAAR, Michelmann foi contratado por uma usina de cana-de-açúcar que estava em busca de alguém com a habilitação exigida pelo Ministério da Agricultura e com experiência em pilotagem de drones.
“Essas exigências existem porque o equipamento é muito caro, e não se pode correr o risco de deixá-lo cair”, ressalta.
Na usina, Michelmann realiza tanto o mapeamento quanto a pulverização das lavouras, utilizando drones diferentes para cada uma dessas atividades.

O mapeamento demanda um equipamento menor, onde o drone sai pela lavoura captando imagens que vão identificar em qual local exatamente está a infestação de pragas. A partir dessa detecção, ele consegue planejar onde o agrotóxico será aplicado, evitando uma pulverização em área desnecessária.
Atualmente, Adrien Michelmann tem carteira assinada e recebe uma remuneração em torno de R$ 4,5 mil. Embora não receba comissões, ele afirma estar satisfeito com o salário e os benefícios oferecidos.
Busca aquecida por pilotos de drones

Em Patrocínio (MG), aqueles que trabalham com carteira assinada estão mais satisfeitos do que os autônomos, afirma João Eder Naimeg, engenheiro agrônomo de 24 anos, empregado em uma empresa de máquinas agrícolas.
Segundo ele, o salário médio de um piloto de drone CLT na região gira em torno de R$ 3 mil, mas, com a comissão por hectare, é possível alcançar uma remuneração de R$ 5 mil ao final do mês.
“A situação está pegando mesmo para quem é prestador de serviço. Todos os pilotos querem ganhar o seu, mas não chegam num valor fixo. Uns estão cobrando muito, outros muito baixo, fica aquela briga e vira um clima de leilão. É por isso que a gente está estudando abrir um sindicato. Para padronizar os preços e evitar esse problema”
diz João Eder
Apesar de possuir o CAAR, João Eder Naimeg se dedica principalmente ao mapeamento, que é a maior demanda na sua região, caracterizada pelas plantações de café.
“Uma situação comum aqui é que, devido ao relevo irregular, os produtores plantam, aguardam a chuva e, quando ela chega, acaba levando tudo”, explica ele.
Nesse contexto, o mapeamento pode gerar imagens e dados que ajudam a prevenir esses desastres, simulando fatores como a quantidade de chuvas e a altitude do terreno. “Ao simular as chuvas, conseguimos criar curvas de nível ou terraços para evitar a erosão e o escoamento das sementes”, detalha.
O interesse pela área surgiu durante a faculdade. “Na graduação, já havia um burburinho sobre a entrada dos drones na agricultura. Como eu trabalhava na área de topografia, onde o uso de drones era comum, fui me apaixonando pela tecnologia.”
João é um defensor da formação. “A parte teórica é tão importante quanto a prática”, afirma. Desde que decidiu atuar na área, buscou cursos de pilotagem, aplicador agrícola e segurança do trabalho. “A empresa em que trabalho sempre me apoiou em relação aos cursos”, comenta.
No entanto, essa não é a realidade de todos. “Muitas empresas contratam funcionários, mas não oferecem cursos adequados. Tenho amigos na região que já se acidentaram; isso é bastante comum aqui”, relata.
Oportunidade para quem quer empreender
O geólogo Reinaldo Baldotto está atualmente realizando o curso do CAAR, com a intenção de se tornar empreendedor nesse setor.

Atualmente, ele é assessor da presidência do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (CREA-ES) e microempreendedor nas horas vagas.
“Meu objetivo é formar uma frota própria de drones de pulverização e contratar pilotos para atender às demandas que eu tiver”, explica Baldotto.
Sua empresa já realiza serviços de mapeamento, mas ele deseja expandir para a área de pulverização, pois considera esse um dos setores com maior potencial de crescimento no mercado. Além disso, ele busca formação que vá além das exigências do Ministério.
“Terminei recentemente o mestrado em Agroquímica Ambiental, onde estudei as condições dos solos e métodos de correções, então com o curso de Aplicador Aeroagrícola consigo estar apto às aplicações”.
A profissão de piloto de drone agrícola está em ascensão no Brasil, refletindo a crescente importância da tecnologia no setor agropecuário. Com uma demanda cada vez maior por profissionais capacitados e o potencial de ganhos atrativos, essa carreira se apresenta como uma excelente oportunidade para quem busca atuar em um mercado inovador. No entanto, é fundamental que os profissionais invistam em formação contínua e busquem experiências práticas para garantir não apenas o sucesso individual, mas também a segurança e eficiência nas operações.
À medida que mais empresas reconhecem o valor da tecnologia de drones, a oferta de cursos e treinamentos adequados deve se expandir, permitindo que novos talentos se integrem a um setor dinâmico e em constante evolução. Com a combinação de conhecimento teórico e prático, os futuros pilotos de drones agrícolas estarão bem preparados para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que essa promissora carreira tem a oferecer.